Benefícios da rotação de culturas e integração lavoura pecuária leva produtor a ser multissafras


Para suportar um aumento de custo na produção de arroz, que nos últimos dois anos girou em torno de 60%, o arrozeiro precisa buscar alternativas para se manter no campo. No entendimento da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) isto se dá pela mudança de foco, onde o arrozeiro deixa de ser produtor de arroz para ser produtor de grãos, passa a executar rotação de culturas e desenvolve habilidades de alta gestão, sendo detentor dos custos de produção. Tanto que o tema da 33ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas será “Arrozeiros como produtores multissafras”, onde diversas palestras e painéis estão sendo programados para debater e detalhar o assunto.

O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, explica que o perfil deste arrozeiro multissafras passa por uma busca de alternativas, por uma intensificação da integração lavoura e pecuária. “Na medida do possível e de acordo com as características da sua propriedade, o produtor tem que buscar outras alternativas além da soja, como o milho, o trigo e também aumentar a pecuária no sistema de produção”, detalha. Além disso, o dirigente detalha que o arrozeiro tem que se profissionalizar na gestão da propriedade rural e atualizar os seus custos de produção. “Tem que ter o seu próprio custo de produção e não somente o do Irga e buscar através de uma gestão eficiente do processo de produção e da rotação de culturas, ter uma eficiência maior com relação ao seu negócio”, comenta Alexandre Velho.

A rotação de culturas, conforme o dirigente, é a única ferramenta, hoje existente, para aumentar a fertilidade de solos e, consequentemente, quando o produtor voltar com a cultura do arroz neste solo, ter um aumento da produtividade. “Em função da melhor fertilidade, ele aumenta a produtividade do arroz e consequentemente tem condições de enfrentar um alto custo de produção que aumentou, em média, 60% na cultura do arroz nos últimos dois anos”, afirma Alexandre Velho.

Pesquisador na área de integração lavoura-pecuária na Embrapa, Jorge Schafhauser é o atual coordenador técnico da Estação Experimental de Terras Baixas e afirma que toda propriedade pode ser multissafras. “Pelo fato de que nós fazemos uso muito menor do solo no inverno, comparado ao verão, há uma janela muito grande para cultivos de inverno e aí entram culturas como trigo, triticale, centeio, cevada que são grãos que, não só podem ser comercializados para a indústria de alimentação animal, como também para alimentação humana. Além disso, a implantação de pastagens de inverno pode fornecer tanto forragem fresca para o uso em pastejo, quanto ser armazenada na forma de feno e silagem, para ser utilizada com o gado nos períodos onde as áreas estão sob cultivos de verão”, destaca.

Para Schafhauser, não há nada que limite o produtor para ser multissafras. Ele ressalta a importância do produtor compreender que não deve comparar, de uma forma simplista, uma cultura contra a outra ou com a pecuária, e sim visualizar os ganhos mútuos entre ambas e os benefícios de uma atividade sobre a outra, que muitas vezes são complexos e difíceis de mensurar, mas que a pesquisa demonstra serem de grande importância para o sistema de produção. “Assim como nós falamos que a pecuária melhora a ciclagem de nutrientes, a matéria orgânica do solo porque essa pastagem possui raízes e que aprofundam e aeram o solo, buscam nutrientes numa profundidade maior, assim dessa mesma forma também, algumas culturas têm a capacidade de deixar benefícios que são difíceis de mensurar mas que acontecem realmente”, exemplifica o pesquisador da Embrapa Terras Baixas.

O especialista também ressalta que há uma série de insumos que tem seu uso potencializado com a integração lavoura pecuária e a rotatividade de culturas na propriedade. “As máquinas, a mão de obra, benefícios ambientais do ponto de vista de solo, a cobertura de solo, a ciclagem de nutrientes, tudo que a pecuária proporciona, quase que obriga o produtor contemporâneo a ser multissafras para poder se manter competitivo no mercado”, garante.  

A 33º Abertura Oficial da Colheita de Arroz e Grãos em Terras Baixas é uma realização da Federarroz, com a correalização da Embrapa e Senar/RS e Patrocínio Premium do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Irga. As inscrições para o evento são gratuitas.

Foto: Fagner Almeida/Divulgação
Texto: Ieda Risco/AgroEffective

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