A demanda alimentar e o arroz do futuro foi a primeira palestra técnica da 32ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, em Capão do Leão (RS). Ministrada nesta quarta-feira, 16 de fevereiro, o Engenheiro Agrônomo e Doutor em Administração, Xico Graziano, detalhou o assunto acompanhado pelo presidente da Federarroz, Alexandre Velho, o presidente do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Rodrigo Machado e o chefe Geral da Embrapa Clima Temperado, Roberto Pedroso de Oliveira.
Para o presidente da Federarroz, o protagonismo que o Rio Grande do Sul tem na produção de arroz é um compromisso importantíssimo com a segurança alimentar brasileira. “Isso nos traz a responsabilidade muito grande de continuar buscando as ferramentas para que o produtor tenha condições de se manter em uma atividade a céu aberto, que tem muitos riscos”, destacou, apontando como exemplo a seca que atinge o Estado neste verão de 2022. Velho também sinalizou que o evento técnico e profissional está consolidado no calendário gaúcho, brasileiro e da América. “A informação é um ativo cada vez mais fundamental para a condução dos negócios e das propriedades rurais”, afirmou, agradecendo a todos os envolvidos na elaboração do mesmo.
“Nós não vamos mais conseguir vender o alimento que ninguém mais quer comprar”, foi um dos alertas apontados pelo palestrante Xico Graziano. Durante toda a sua fala, o engenheiro agrônomo e doutor em Administração provocou uma reflexão sobre o futuro do arroz e do próprio arrozeiro, ao citar o movimento de migração que impacta, principalmente, a China. Naquele país, 400 milhões de pessoas deixaram o campo para viverem na cidade e o comportamento do consumidor é buscar valor agregado ao produto nas prateleiras dos mercados. “Hoje, a dona de casa quer saber de onde vem o alimento, como foi produzido e se a propriedade explora a mão de obra, sem falar no pavor que foi criado em torno dos pesticidas”, destacou.
Para Graziano há dez requisitos básicos de sustentabilidade no agronegócio que devem ser o foco do produtor brasileiro. A baixa pegada de carbono abriu a lista e a recomendação dada foi que os produtores façam desta uma ferramenta de tomada de decisões. O segundo item citado foi a economia de recursos hídricos, seguido da proteção da biodiversidade. Ao citar a regeneração biológica do solo, destacou que esta é “a bola da vez”, a maior tendência global, e se chama agricultura regenerativa. No quinto item essencial, zerar resíduos de agrotóxicos, Graziano fez uma provocação: “A gente garante que não tem mesmo ou ficamos brigando com estes agrochatos?”, questionou. Na sequência, ele citou que o Brasil é líder em inovação tecnológica e que o controle biológico de pragas cresce no país.
O sétimo requisito básico citado foi o da diversidade produtiva. “Este é o núcleo da sustentabilidade e é preciso radicalizar”, destacou. O bem estar animal foi o oitavo item enumerado por Graziano, que destacou normativa que entra em vigor na Europa em 2023 onde galinhas poedeiras não poderão mais serem criadas em gaiolas. A inclusão social veio a seguir, com um alerta de que “não é mais possível ganhar dinheiro se um funcionário não tiver um dente na boca”. A lista encerrou com a sustentabilidade produtiva, onde Graziano destacou a tríade aumento de produtividade, de rentabilidade e a redução de custo.
Para concluir sua participação na palestra de abertura, Xico Graziano citou a canção de Belchior, imortalizada por Elis Regina, Como nossos pais. “Eu vim aqui dizer que você estão no caminho certo, mas acelerem. O avanço tecnológico é cada vez mais rápido e não estamos dando conta de administrar esta variável. Ao pensar sobre qual será o arroz do futuro, penso em como serão os agricultores do futuro e não podemos fazer como nossos pais”, completou.
Nesta direção, o presidente do Irga apresentou um breve panorama sobre a atuação do instituto. Segundo Machado, a lavoura do arroz gaúcha está preparada para enfrentar a demanda de consumo do cereal. “O Rio Grande do Sul passou de 3 mil quilos de hectares de produtividade média para no ano passado batermos a marca histórica de 9 mil quilos”, comparou. “Isso vem de muita tecnologia e muito trabalho dos nossos produtores”, complementou. Conforme ele, o cereal também está sendo pesquisado dentro do Irga como sistema produtivo integrado, a racionalização dos recursos hídricos, o lançamento de cultivares resistentes a doenças e a alta qualidade do grão, além de já possuir um trabalho consolidado sobre as emissões de gases que causam o efeito estufa.
Já o chefe Geral da Embrapa Clima Temperado lembrou que o arroz é um dos alimentos de maior valor nutricional para o ser humano, sendo uma cultura extremamente versátil e que se adapta a diferentes condições de solo e de clima. “Por isso, é considerada a cultura com maior potencial para o combate à fome no mundo”, alertou, sinalizando que trata-se do segundo cereal mais cultivado no planeta e que no Rio Grande do Sul é uma das culturas mais tecnificadas. “A Embrapa tem se esforçado em suas pesquisas para otimizar a cadeia produtiva”, concluiu.
A 32ª edição da Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas segue até sexta-feira, dia 18 de fevereiro, na Estação Terras Baixas, da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão (RS), em formato híbrido com atividades presenciais e on-line. Além das palestras, a programação conta com vitrines tecnológicas, feira, homenagens e ato da Abertura Oficial. A organização é da Federarroz com correalização da Embrapa e patrocínio Premium do Irga e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Informações podem ser obtidas pelo aplicativo Colheita do Arroz ou no site www.colheitadoarroz.com.br.
Foto: Carlos Queiroz/Divulgação
Texto: Larissa Mamouna e Ieda Risco/AgroEffective