Sustentabilidade é tema central do segundo dia de painéis da Abertura Oficial da Colheita do Arroz


Mercado Verde e o Agro foi tema do primeiro painel realizado nesta quinta-feira, 22 de fevereiro, segundo dia de programação da 34ª Abertura Oficial da Colheita de Arroz e Grãos em Terras Baixas, em Capão do Leão (RS). Foram painelistas Samanta Pineda, diretora-executiva do Canal Agro Mais, Carlos Roberto Sanquetta, professor na Universidade Federal do Paraná, e Guilherme Moraes Ferraudo, gerente de Desenvolvimento de Negócios da MyCarbon. O moderador do painel, que ocorreu no auditório Frederico Costa, Domingos Velho Lopes, diretor vice-presidente da Farsul, ao abrir a palestra, se referiu à satisfação em discutir uma pauta mundial relevante como o carbono e com pessoas de renome.

A diretora do Canal Agro Mais, Samanta Pineda, destacou que o Brasil tem saúde no solo e cuida da biodiversidade usando bioinsumos, assim como adota o plantio direto do solo, entre outras técnicas. “No momento em que o mundo fala em transição energética, se fala em sair dos combustíveis fósseis e passar para uma energia mais limpa, o que o Brasil já faz”, completou. Samanta disse ainda sobre os projetos de regulação das emissões de carbono para acesso aos créditos de carbono e alertou que mais importante do que ter acesso a esses créditos é usar as práticas sustentáveis já consolidadas no Brasil para agregar valor aos produtos exportados.

Já o professor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Roberto Sanquetta, trabalhou o conceito de crédito de carbono, basicamente títulos atrelados à redução ou remoção de gases do efeito estufa na atmosfera. “O Brasil é pioneiro em projetos sustentáveis no mundo, entre eles os de reflorestamento”,  destacou. Sanquetta, neste sentido, detalhou o que é um projeto de crédito de carbono, assim como novidades e potencialidades em especial para a orizicultura, neste sentido.  

Por fim, o gerente de Desenvolvimento de Negócios da MyCarbon, Guilherme Moraes Ferraudo, abordou as potencialidades para o agronegócio a partir dos créditos de carbono e como agregar valor aos produtos desenvolvidos de forma sustentável. “As reduções de gases do efeito estufa estão aumentando e não podemos ficar fora disso”, alertou. Ferraudo exemplificou a velocidade com que tem ocorrido o valor do mercado global de carbono. Saltou de 865 bilhões de euros para algo em torno de 1 trilhão de euros para 2025.

O gerente de Desenvolvimento de Negócios da MyCarbon detalhou como a empresa trabalha todo o processo junto a empresas que queiram ter acesso a créditos de carbono a partir de práticas sustentáveis. “Gerar créditos de carbono é uma mudança de comportamento, no sentido de aumentar a produtividade e diminuir o impacto no solo degradado a partir de novas práticas”, concluiu
Dentro do Seminário Mercado Verde e o Agro, o segundo painel abordou o tema Sustentabilidade na Orizicultura e os horizontes do selo ambiental do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Participaram como painelistas o pesquisador da seção de Solos e Águas da Estação Experimental do Arroz do Irga, em Cachoeirinha (RS), Rafael Nunes dos Santos, o secretário-adjunto da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Márcio Madalena, e o diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon. O debate teve a moderação do diretor-executivo e jurídico da Federarroz e sócio da Belloli Advogados, Anderson Belloli.

O expressivo aumento populacional projetado para 2050 no mundo de cerca de 9 bilhões de pessoas e o aquecimento são considerados um grande desafio para a agricultura. Conforme Rafael dos Santos, “o equilíbrio entre a produção de alimentos, com maior eficiência nas áreas produtivas e a conservação do ambiente, é fundamental neste processo”. Atualmente, 47% das fontes hídricas na orizicultura são oriundas de açudes e barragens, o que é considerado mais sustentável do que a utilização da água dos rios, riachos e arroios que somam 32% e, lagos, cerca de 20%.

O pesquisador do Irga também lembrou a importância de que existam sistemas integrados com a genética e que o programa de melhoramento genético é fundamental na questão sustentável, pois é importante cultivar com resistência à brusone e, consequentemente, haverá uma redução do uso de fungicidas. “Com os sistemas integrados e a genética, há diversificação de rendas, menos dependência de agroquímicos, uso de água otimizado, menores emissões de metano, aumento no rendimento de grãos por unidade de área e melhoria da fertilidade do solo”, salientou.
Em relação ao selo ambiental do Irga, existem três etapas que têm que ser cumpridas: a inscrição com documentos necessários para comprovar que a lavoura atende a legislação ambiental; a vistoria, onde o profissional do Instituto vai às lavouras para verificar o nível de adoção de todas as boas práticas sustentáveis e o julgamento do comitê, que avalia a documentação da inscrição e das vistorias.

Para Márcio Madalena, o sistema produtivo do Rio Grande do Sul é mais sustentável do que muitos países de outros continentes, porém, ainda precisa evoluir bastante. “A questão da sustentabilidade precisa evoluir muito, mas não pode ferir alguns preceitos e fundamentos básicos. Se fala muito da tecnologia para o aumento da produtividade. Nós estamos enxergando que este aumento acaba trazendo consigo um arcabouço de sustentabilidade muito forte. Entretanto, o que nós não podemos errar é começar na questão da necessidade de gerar crédito de carbono e na necessidade de produzir de forma sustentável ambientalmente e começar a punir a eficiência produtiva. Essa é uma linha muito tênue”, afirmou.

Já Clenio Pillon salientou que o consumidor tem a percepção de que o alimento está diretamente ligado à qualidade de vida. “Tem que haver uma conexão da produção de alimentos com o contexto da conservação e uso sustentável da biodiversidade”. Pillon lembrou que a Embrapa está trabalhando em  93 projetos de melhoramento genético preocupados com a questão climática. “As soluções estão na exploração sustentável da nossa biodiversidade”, resumiu. Segundo o diretor da organização, há três processos fundamentais: a segurança alimentar, a agricultura multifuncional e a conexão da agricultura com a crise climática.

No terceiro painel da tarde“Arroz Irrigado em Sistemas de Produção Frente ao Cenário Atual de Vulnerabilidade Climática” participaram a pesquisadora do Irga, Mara Grohs, e o engenheiro da Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul, Lineu Trindade Leal. O mediador foi o coordenador do Comitê Gestor Estadual do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABS + RS) Jackson Freitas Brilhante.

A pesquisadora do Irga, Mara Grohs, destacou o Brasil como um dos dez maiores produtores de arroz do mundo e refletiu sobre como nos tornar mais resilientes
frente a mudanças climáticas e o que fazer para mitigar os danos provocados pelo efeito estufa. “Os gases de efeito estufa se dividem basicamente em Dióxido de Carbono, Metano e Óxido Nitroso, o que tem causado desastres como aumento dos níveis dos mares, excesso de chuva, queimadas e secas”, enfatizou.

Mara destacou as técnicas que têm sido usadas nas lavouras no sentido de produzir de forma sustentável, como preparo antecipado do solo e plantio direto, entre outros, o que proporciona a possibilidade de aumento de produtividade em uma área menor. “Isto tem se refletido em um melhoramento genético e em maior segurança alimentar” sinalizou. Outro ponto destacado pela pesquisadora do Irga é que na atual safra houve uma redução de 60% na emissão de gases devido à adoção da rotação com a cultura da soja. Por fim, Mara citou o andamento de projetos de captação de recursos internacionais para serem aplicados no melhoramento das lavouras.

Já o engenheiro agrônomo Lineu Trindade Leal falou sobre como o Ministério da Agricultura  vem trabalhando em soluções mitigatórias contra as mudanças climáticas e na redução das emissões de carbono. Lembrou do Plano ABC, surgido em 2010, plano setorial da agropecuária visando redução de gases do efeito estufa. A primeira fase desse plano terminou em 2021, quando surgiu o Plano ABC + com novas metas relativas à redução de gases com aumento de produtividade, eficiência na transferência de tecnologia e inovação, recuperação de pastagens, sistemas integrados entre pecuária, lavouras e florestas, e sistemas irrigados. “A ideia é trabalhar de uma forma que essas atividades estejam juntas na mesma área na medida em que uma traga benefícios para a outra”, destacou. Por fim, o engenheiro agrônomo concluiu que a agricultura está evoluindo, mas ainda há espaço para avançar mais. Neste sentido, citou várias linhas públicas de financiamento a juros subsidiados em vigor.

Foto: Carlos Queiroz/Divulgação
Texto: Artur Chagas e Leandro Prade/AgroEffective

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